O governo federal planeja inaugurar em 2010, ano da sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, uma de cada três grandes obras em andamento no país. O dado é de levantamento feito pela Folha na lista dos chamados "projetos de grande vulto", publicados em anexo ao projeto de lei orçamentária de 2009, que aguarda sanção presidencial.Esses projetos são aqueles sob a responsabilidade direta de ministérios e órgãos a eles subordinados, com valor estimado superior a R$ 20 milhões. Também entram na lista as obras executadas por estatais, com orçamento acima de R$ 100 milhões.Ao todo, são 348 obras e projetos em andamento no país que foram incluídos na lista. Desses, 107 estão com conclusão prevista para 2010. O número representa 30,7% do total de obras em andamento.Metade delas está sob a responsabilidade do Ministério dos Transportes. Ao todo, o órgão tem 112 obras na lista dos projetos de grande vulto. Desses, 45,5% têm previsão de entrega para 2010.Caso não haja alterações no cronograma por conta de restrições orçamentárias ou judiciais, o país assistirá, em média, a uma inauguração a cada três dias e meio no ano da sucessão do presidente Lula.Para 2009, estão previstas 64 inaugurações de projetos de grande vulto -40% menos que o programado para 2010. Ao sucessor de Lula, ficará a missão de terminar outras 177 grandes obras já iniciadas.Não entram na lista projetos incluídos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que estejam sendo executados por prefeituras, governos estaduais ou consórcios privados -como o das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, que foram concedidas à iniciativa privada, e as obras de urbanização de favelas nas represas Billings e Guarapiranga, em São Paulo, executadas em parceria entre governo estadual e prefeitura.Entre as obras a serem inauguradas, estão trechos da ferrovia Norte-Sul no Tocantins e em Goiás e a ampliação da malha de gasodutos do Sudeste.Se fossem incluídas na lista analisada pela reportagem as "ações significativas" listadas no último balanço do PAC, de novembro, e que não são executadas diretamente pelo governo federal ou estatais, a proporção de inaugurações previstas para 2010 ficaria maior.Seriam 69 obras a mais, das quais 44 são previstas para 2010 -ou 36,2% do total. Para o ano que vem, também seriam o dobro de conclusões de obras.Em 2006, ano da reeleição de Lula, estava prevista a inauguração de 62 obras e projetos. Na época, o presidente discursou em 11 entregas de obras antes do início oficial da campanha eleitoral, em 1º de julho, quando os candidatos são proibidos de ir a inaugurações.
Dilma
A distribuição das inaugurações previstas para 2010 é positiva para uma eventual candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) -coordenadora do PAC e principal aposta de Lula para sucedê-lo no Palácio do Planalto.Os Estados com maior número de inaugurações planejadas para 2010 são Minas Gerais (14), onde Dilma nasceu, e Rio Grande do Sul (13), onde ela construiu sua carreira política. Há ainda a particularidade de serem governados pelo PSDB e de serem Estados onde o PT apresenta queda na presença política nos últimos anos.O advogado Alberto Rollo, presidente do Idipea (Instituto de Direito Político, Eleitoral e Administrativo), diz que Lula terá de ser comedido para não transformar em problema o potencial de 107 palanques para angariar votos ao seu candidato. "O presidente poderá participar de todas as inaugurações de obras em 2010, sem restrição. O que ele não pode é alavancar o candidato de forma declarada ou sub-reptícia", diz.