"A maleta bisbilhoteira".

Do Blog da Lucia Hippolito:

O ministro Nelson Jobim afirma, em reunião com o presidente Lula e o presidente do STF, Gilmar Mendes, que a Abin comprou uma maleta para escuta.
A afirmação do ministro foi decisiva para que o presidente Lula afastasse temporariamente o diretor-geral da Abin, delegado Paulo Lacerda.
Lacerda, por sua vez, afirma que o ministro Jobim “deu um tiro no pé”, porque, segundo ele, o Exército também comprou uma maleta para escuta.
Ontem, na CPI dos Grampos, na Câmara dos Deputados, o vice de Paulo Lacerda, também afastado temporariamente, reconheceu que a maleta da Abin realmente existe, mas não faz escuta de longo alcance e não grampeia celulares.
Já o ministro-chefe do Gabinete Institucional, general Jorge Félix, reconheceu na CPI que, sim, a escuta pode ter sido feita pela Abin.
Em suma, pelo visto, abriu-se uma caixa-preta (ou maleta preta), que pode levar a desdobramentos inesperados.
O fundamental agora é não nos deixarmos iludir pelas maletas que voam de um lado para o outro.
Isso porque, enquanto nos encantamos com as maletas voadoras, podemos nos esquecer daquilo que é realmente importante.
Por exemplo, o aparato de segurança e inteligência escapou do controle do governo? O general Jorge Félix, superior hierárquico da Abin, deve ser também afastado?
Jobim declara que o modelo da Abin entrou em colapso. Existe sugestão para um novo modelo? Há estudos para adaptar a Abin aos tempos democráticos?
Quais são os controles institucionais que podem ser acionados para trazer novamente o aparato de segurança para o escrutínio do governo e da sociedade?
Como evitar os excessos e abusos das agências de inteligência e segurança, sem, no entanto, inibir as investigações da Polícia Federal que, nos últimos tempos, conseguiu sucessos importantes em investigações que contaram com escuta telefônica autorizada pela Justiça?
Enquanto nos enredamos com maletas bisbilhoteiras, instala-se uma confusão que só beneficia os mal-intencionados, aqueles interessados em desmoralizar o trabalho de investigação da Polícia Federal.
O abismo é o país cair no pior dos dois mundos: os bandidos se beneficiarem, enquanto os cidadãos inocentes continuarão a ser bisbilhotados e intimidados.