Depoimento colhido pela Polícia Federal na investigação da Operação
Lava-Jato indica que parlamentares do PT e do PMDB negociaram com o
doleiro Alberto Youssef para que ele fechasse negócios com os fundos de
pensão dos Correios, o Postalis, e da Caixa Econômica Federal, o Funcef.
Em troca de apoio político para o fechamento do negócio com os fundos,
haveria uma partilha de comissões com integrantes dos dois partidos. O
negócio só não se concretizou porque o doleiro foi preso.
Segundo relato à PF da contadora Meire Poza, ex-funcionária do grupo
de Alberto Youssef, em 12 de março deste ano, cinco dias antes de ser
preso, o doleiro se reuniu com o presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), em Brasília, e fechou um acordo verbal para ser beneficiado
com R$ 50 milhões dos dois fundos de pensão. O deputado André Vargas
(sem partido-PR) teria ajudado na articulação com a ala petista dos
fundos de pensão.
COMISSÃO DE 10% AOS ‘CORRETORES’
Meire Poza disse ainda que o acordo renderia uma comissão de 10%, R$ 5
milhões, aos “corretores” do negócio. Esses corretores seriam os
intermediários que fariam chegar o dinheiro aos partidos. Mas não está
claro qual o percentual dos R$ 50 milhões que seria destinado aos
políticos. Youssef foi preso no dia 17 de março, no Maranhão, e a
transação não se efetivou.
Renan e Vargas negam qualquer vínculo com as tratativas do doleiro.
Segundo o relato de uma das pessoas que está participando das
investigações da Operação Lava-Jato, Youssef estava precisando de muito
dinheiro e tentou convencer o Postalis e o Funcef a investirem R$ 50
milhões em ações em uma de suas empresas, a Marsans Brasil.
Diante da resistência de dirigentes dos fundos vinculados ao PMDB,
Youssef teria procurado apoio de Renan na noite de 12 de março. Dois
dias depois, num café da manhã, em São Paulo, ele comemorou com Meire
Poza a futura entrada do dinheiro que poderia aliviar parte dos
problemas financeiros da Marsans. “Ele (Youssef) me disse que esteve com
o Renan para ajustar a parte do Postalis, que tinha conseguido os R$ 50
milhões em debêntures para a Marsans”, relatou a contadora a policiais. Pelo suposto acerto, o Postalis faria um aporte de R$ 25 milhões, e a outra parte, de igual valor, caberia ao Funcef.
A contadora disse à Polícia Federal que o doleiro pagaria comissão de
10% do valor do aporte para os corretores credenciados para esse tipo
de transação. O valor é bem superior às cifras pagas pelo mercado nesses
tipos de transação que, segundo ela, ficam em torno de 3%. A suspeita
levantada é que parte do dinheiro seria destinado a campanhas
eleitorais.
Meire Poza prestou depoimento no início de agosto. As informações
deverão ser encaminhadas ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal
Federal, como parte das informações colhidas nas colaborações feitas
pelos investigados. Caberá ao ministro decidir se as acusações têm
fundamento e se polícia deve aprofundar a investigação do caso.
Procurado pelo GLOBO por intermédio da assessoria, Renan Calheiros
negou que tenha recebido Youssef, disse que não o conhecia e que ficou
sabendo do caso pela imprensa. André Vargas também negou qualquer
vínculo com as negociações de Youssef com o Postalis e o Funcef. Vargas
já reconheceu que é amigo de Youssef há muitos anos, mas disse que não
conhece e não tem qualquer relação com dirigentes dos dois fundos. — Não conheço ninguém no Postalis. Nunca estive lá e nem sei onde
fica. Ele (Youssef) nunca tratou desse assunto comigo. Isso é lorota —
disse Vargas.
O GLOBO tentou, sem sucesso, falar com o presidente do Postalis,
Antonio Carlos Conquista. A assessoria não retornou a ligação. Ainda na
1ª fase das investigações da Lava-Jato, o Funcef reconheceu que Youssef
tentou, mas não conseguiu, fazer um negócio com a instituição.
Teori Zavascki é relator das investigações já abertas contra os
deputados André Vargas, Luiz Argôlo (SDD-BA) e contra o senador Fernando
Collor de Mello (PTB-AL), acusados de receber vantagens materiais de
Youssef. Meire foi contadora de Youssef de 2011 até março deste ano,
quando a Operação Lava-Jato implodiu os negócios do doleiro. Num outro
depoimento, a contadora relata que o doleiro intermediou o pagamento de
R$ 4,6 milhões em propina para o governo do Maranhão antecipar o
pagamento de um precatório de R$ 120 milhões da Constran.
LAVAGEM DE DINHEIRO DE EMPREITEIRAS
O advogado Carlos Alberto Pereira da Costa, ex-diretor jurídico da
Marsans e da GFD, outra empresa de Youssef, decidiu colaborar com as
investigações da PF e do Ministério Público Federal. Ele relatou como
funcionava a GFD. Youssef teria criado a empresa para administrar parte
de seus negócios lícitos. Mas, depois, passou a usar a empresa na
estrutura de lavagem de dinheiro de empreiteiras com contratos com a
Petrobras.
Com as colaborações de Meire, Pereira, Leonardo Meirelles, um dos
sócios de Youssef no laboratório Labogen, e mais recentemente do
ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa,
investigadores acreditam que não restará outra alternativa ao doleiro
senão aceitar a delação premiada. O volume de informações contra o
doleiro, o ex-diretor da Petrobras e algumas grandes empreiteiras é
expressivo. Youssef e Costa são acusados de chefiar duas grandes
estruturas de desvio de dinheiro.
Costa é suspeito de intermediar contratos da Petrobras em negócios
articulados entre grandes empreiteiras, prestadores de serviço e
políticos. Na delação premiada, Costa disse que 3% de cada contrato da
estatal eram destinados a políticos.
4 comentários
Li que o doleiro Alberto Youssef renegou a possibilidade de colaborar com a justiça. Certamente a verdade é que isto lhe foi negado pelo que ele fez no passado no caso Banestado, quando enganou todo mundo, Parece que a estratégia foi mandar sua ex-contadora abrir o bico e entregar os caras que ele beneficiou e que agora o abandonou.
Replycadeia pra esses vigaristas.
ReplyCoronel
ReplyO que me deixa indignada é que com todos estes escândalos publicados por Veja no último sábado (PETROLÃO)e que estão bombando nos blogs sérios não estão estarrecendo a população. Tudo isto deveria refletir nas pesquisas. Salvo, estas estejam todas maquiadas. É mais provável.
A imprensa vendida, com as exceções de sempre, está escondendo Aécio ou pouco falando dele. Mais mostra as farpas das duas barangas. É o fim da picada!
Não vou mudar de lado nunca! Meu candidato é o Aécio!
Chris 45/SP
esse bolo é o escarnio completo com a politica brasileira...
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