Oposição: busca-se um discurso, desesperadamente.

Perdido em uma briga interna entre o ex-governador de São Paulo, José Serra, e o senador Aécio Neves (MG), pré-candidatos à Presidência em 2014, o PSDB está deteriorando a relação com seus aliados e não apresenta propostas que o torne uma alternativa ao governo petista. A avaliação é do ex-deputado federal Raul Jungmann (PPS), que foi ministro da Reforma Agrária do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), embora seu partido fizesse oposição aos tucanos na época. Ele acredita que a oposição não mostra como solucionará os problemas da população. Ao contrário, fica presa na "facilidade de denunciar" o governo, que perdeu seis ministros acusados de corrupção no primeiro ano da presidente Dilma Rousseff (PT). Em entrevista ao Valor no sábado, quando o PPS aprovou lançando candidato próprio para presidente em 2014, Jungmann garante que a tática é infrutífera, como prova o mensalão. 

Valor Econômico: O senhor diz que o PPS está perdido no "hiper antipetismo". Como isso tem afetado a oposição?
Raul Jungmann: O bloco comandado pelo PT e pelo [ex-presidente Luiz Inácio] Lula [da Silva] nos tornou dependentes - no sentido de contraponto - do discurso deles. Não temos ido além, não temos apresentado propostas à população. Depois de três disputas presidenciais, a polarização PT/PSDB entrou em um processo de fadiga para as forças que não encabeçam a oposição. Para nós, ela não tem levado a uma saída e começa a não ser mais sustentável.

Valor: Para o PPS ou para a oposição?
Jungmann: Se o Tribunal Superior Eleitoral entender que o PSD tem direito ao fundo partidário e tempo de televisão, haverá um movimento de para criar novos partidos e isso sangrará ainda mais os partidos da oposição que não representam o novo. Vamos sair do troca a troca no varejo para o troca a troca no atacado, o que ameaça o campo da oposição.

Valor: A queda de seis ministros não afetou a aprovação da presidente. A oposição falhou em explorar esses escândalos?
Jungmann: Ficou facílimo denunciar o governo do PT. Diria até que é impossível não denunciar. Mas ficou evidente, e o mensalão foi o exemplo máximo, que isso não basta. O denuncismo sensibiliza uma faixa da opinião pública, mas temos que entender que outra parte não quer saber disso. Com a evidente piora da economia, haverá um desembarque de aliados e segmentos sociais do governo e, se ficarmos presos a essa polaridade, a essas denúncias, perderemos a oportunidade de construir um novo rumo para o país.

Valor: O PPS apoiou o candidato do PSDB à Presidência em 2006 e 2010. O partido perdeu com essa aliança?
Jungmann: Deveríamos ter resistido e insistido no caminho próprio. Tivemos candidato em 1989 [Roberto Freire, quando o partido ainda era PCB], 1998 e 2002 [Ciro Gomes, hoje no PSB]. Tínhamos três deputados federais em 1988 e chegamos a 22 [em 2003]. Em todas estas disputas, crescemos em prestígio, mesmo sem sucesso eleitoral. O que nos reserva o PSDB hoje é uma espécie de quarto de despejo, um quartinho dos fundos.

Valor: Como assim?
Jungmann: Eles dizem: "olha, vocês ficam ai que nós tocamos efetivamente o lado de cá" [a oposição]. O PSDB tem tratado com desdém e desprezo o PPS. E quem está dizendo isso é o "bico longo" [em referência ao bico dos tucanos], que trabalhou por oito anos no governo FHC. O PSDB montou um comitê nacional com o DEM, para dividir os municípios e capitais em todo o país, e não chamou o PPS. Fomos excluídos.

Valor: Por isso a candidatura própria?
Jungmann: Sem deixar o campo da oposição e sem romper com o PSDB, queremos estar, de maneira diferente, em 2014. Hoje, não vejo no PSDB a unidade, a renovação, uma proposta para o país que nos dê esperança de retomar esse processo. O PSDB tem deteriorado a relação com os aliados continuamente, não só conosco, e isso é fruto do que ocorre dentro do partido, em que há uma disputa mortal entre os líderes dos dois maiores Estados do país [Serra e Aécio].

Valor: Em 2009, o partido quase aprovou a fusão com o PSDB. O que mudou? Foi a derrota do Serra?
Jungmann: A derrota do Serra conta, é claro. Mas também foi a decepção e frustração pela irresolução dos dilemas do PSDB. É um partido que não resolve sua divisão interna, que não se refaz, que não teve coragem de defender as próprias bandeiras. Há um cansaço com essa indefinição. Não significa deixar a aliança, mas o que começa a acontecer? O DEM está à procura do seu caminho [lançou o senador Demóstenes Torres, de Goiás, como candidato a presidente], o PPS também. E cada um vai tocar a sua vida.

Valor: O PPS não tem nomes fortes para 2014. Mesmo assim, o senhor acredita em vitória?
Jungmann: Digo que é muito difícil, mas precisamos preparar terreno para 2018. Dizem que somos muito pequenos, mas a [ex-senadora] Marina [Silva] teve 20 milhões de votos com o PV, que é menor do que nós. Não há uma ligação direta entre tamanho do partido e resultado.

Valor: Aliados da Marina se filiaram ao PPS. O nome desejado para 2014 é o dela?
Jungmann: Prefiro não tocar no assunto, primeiro para não passar por cima da Marina. Entretanto, defendo que o PPS faça um congresso em 2013 para colocar o desenvolvimento sustentável no topo das suas preocupações. Isso é um movimento que a envolve, mas não faço nenhum cálculo.

12 comentários

O discurso não precisaria ser desesperado se a turma do nariz empinado defendesse com unhas e dentes o Plano Real e o governo de Itamar Franco. Essa turma do nariz empinado nada entende de marketing. Já o PT é só marketing político capaz de vender areia para os árabes.

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Caso pensado – Logo após Luiz Inácio da Silva ter recebido o resultado laboratorial que indicava a presença de um tumor na laringe, a tropa cibernética do Partido dos Trabalhadores entrou em ação para criticar com veemência a imprensa brasileira, que na opinião dos amestrados invadia a intimidade do ex-metalúrgico ao fazer plantão diante do prédio em que mora, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

Não demorou muito para a mesma horda adotar um obsequioso silêncio, reflexo de ordens superiores, pois a exploração política da doença de Lula interessa ao PT e seus caciques, uma vez que é preciso dar continuidade ao projeto de poder do partido e principalmente camuflar a herança maldita deixada pelo ex-presidente.

Nesta segunda-feira (12), Lula voltou ao Hospital Sírio-Libanês para a terceira e última sessão de quimioterapia. Em janeiro os médicos iniciarão as sessões de radioterapia, o que pode comprometer sobremaneira a resistência do paciente. Sorridente, o petista chegou ao hospital acompanhado de assessores e foi recebido pelos médicos que o acompanham no tratamento.

Desavisada, a imprensa desceu a detalhes pífios na cobertura da estada de Lula no hospital, que deve durar até terça-feira (13). Entre as desnecessárias informações surgiu a de que Lula trajava uma camisa vermelha. Trata-se de estratégia política esculpida com a devida sordidez e antecedência, especialmente porque o candidato de Lula à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, apareceu na pesquisa Datafolha com ínfimos 4% de intenção de voto. Sem contar que a pesquisa apontou nas entrelinhas que Lula não consegue manter suas pretéritas qualidades de cabo eleitoral.

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Os políticos brasileiros só visam um bem! O deles próprios ! Nada mais lhes importa.

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CEl,

O Brasil tem 29 partidos políticos oficializados, todos com sede de poder, cada qual puxando a brasa para a sua própria sardinha, trata-se de uma verdadeira Torre de Babel.

Os entendimentos são os conchavos de toda natureza e, o que está para ser feito não se faz para não mexer nos próprios interesses.

Há, mas e a nação? A nação? Ora, a nação que se foda, o importante é se eleger.

Ou se moraliza a política no Brasil implementando as reformas necessárias ou continuaremos nessa imbecilidade própria de país subdesenvolvido.


Índio Tonto/SP

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O problema é a ECONOMIA, que vai "bem".

Em época de Braphil Potenphia, contestar qualquer coisa fica difícil.

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não tem discurso, já disse...

aquela pesquisa da CNA foi um balde de água fria...

praticamente estão todos satisfeitos, ainda, com o rumo da economia e com as suas compras a prestação...

esta todos pedalando para a politica e para a corrupcao...

o povaréu só quer saber de bolsa-alguma coisa e de fazer prestações...

pelo amor de Deus, falar do Plano Real eh chutar cachorro morto...

acordem, já ha uma geração inteira que vota e que nem sabe o que aconteceu, não faz nem ideia do inferno que era antes do Real...

pra quem não viveu a época, o apelo eh quase nenhum...

eh como se quisessem me comover por causa da Guerra do Paraguai...

não ha discurso para a oposição, o PT gatunou todos...

o que resta eh bater, bater e bater no petralhismo pra ver se, em um lampejo de bom senso, o eleitorado toma vergonha na cara...

eh difícil combater o modelo petista, ele eh enredado como um domino, onde nenhuma peca quer cair para não derrubar toda a fila...

eles se engatam uns aos outros de tal maneira - distribuindo cargos, benesses diversas ou empregos - que fica difícil mesmo derrubar essa verdadeira "piramide" (lembram daquele jogo?)

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Não existe discurso porque o PT apossou-se do discurso do PSDB.E agora? fazer o que? Já que não mataram a cobra quando podiam, sigam agora o conselho da martaxa...relaxem e gozem, só que com a dos outros.Na minha opinião, o unico candidato que poderia agora quem sabe, cair no gosto popular seria um militar das FF AA, quem sabe o sumido general Heleno?

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29 partidos políticos!

Prá que se na hora da roubalheira dane-se (prá não dizer pior) o estatuto os ideais e, principalmente o eleitor...

O que interessa é o bolso desses FDP ladrões.

Só estão lá com interesse de roubar o povo brasileiro.

Essa é a grande HERANÇA CULTURAL MALDITA que nos deixou Portugal.

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Jungmann hibernou por tanto tempo para aparecer agora com essa conversa mole de desenvolvimento sustentável no topo das preocupações partidárias?

E quer com esse lero-lero ser alternativa ao petralhismo? E sonhando com Osmarina Silva? Tsc, tsc, tsc...

Não dá pra ser feliz!

Do jeito que as coisas vão eu ainda acabo achando melhor e até quem sabe mais proveitoso fazer entrismo no pt, lutar lá dentro do covil, do que contar com essa oposição desorientada, em eterna autocrítica, sempre à beira da capitulação, enfim, de merda!

Decididamente, o mundo se fez plano.

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Mas, afinal, onde é que está a "facilidade de denunciar"? E está fácil é porque a malversação ficou coisa banal. E nem assim está mais fácil.

Será que ele não deveria dizer "facilidade em praticar malversação de recursos públicos"? Caradurismo?

Interessante essa mania de oposição não pode criticar "por que é mais fácil criticar".
Oras, então oposição para quê?

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Seria só usar a formula capitalista mantendo a economia saudável , que ficariam no governo para sempre.
Mas a tentação do socialismo , roubando os impostos já estupidamente altos , vai azedar de vez o caldo . A inflação e a concorrencia estrangeira com a economia mundial estoporada serão implacáveis.

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Coronel, o PSDB acabou, como acabado também está o PT, DEM e demais partido brasileiros. O da ocasião acabou- o PT- porque se configurou numa fraude e se perdeu na maior corrupção de todos os Tempos; OS DEMAIS POR NãO HONRAREM A POSIÇÃO DE REAL OPOSIÇÃO.

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