Confiança.

Serão 20 programas eleitorais na TV até as eleições. Serra veio como se fosse candidato à prefeitura de Garanhuns. Não. Garanhuns não, imagina. Serra Talhada, prefeitura de Serra Talhada. Já Dilma veio como candidata à presidência do Brasix, um país virtual. Serra veio mal iluminado, com sombra na cara e com favela colada no fundo. Dilma veio cheia de efeitos especiais, hollywoodyana, só faltou voar abraçada com Lula. Os pobres de Serra eram feios, mal vestidos, sofridos, mas um sofrido sem interpretação, sem o componente do drama, pois acometidos de doenças banais como catarata, em vez de câncer. Os pobres de Lula, puta que pariu, vieram com dente do Brasil Sorridente, iluminação do Luz para Todos, Bolsa Família corporativa, royaltie do Pre-Sal na poupança. Tenhamos confiança. Impossível ter sido assim sem que a campanha de Serra tenha desejado que fosse assim. Talvez, em cima do fracasso do filme do Lula, os marqueteiros tenham descoberto que o povo não quer mais saber de super produções. Talvez, antevendo o Brasil virtual que seria criado para sustentar o Robô Dilma, tenham sacado, genialmente, que as pessoas não acreditam mais em mentiras nem mesmo em filmes. Talvez, sabedores de que a campanha de Dilma usaria banco de imagens de estatais e efeitos finalizados em Los Angeles, optaram pelo choque da pobreza e pela estética miserável. Pelo primeiro programa,ficou escancarado que a pobreza está com Serra. Chegou a dar "uma dó", como diria a minha avó, ver o brasileiro mais preparado para comandar o país sem uma luz decente para iluminar os seus passos. Já a riqueza está com Dilma e seu botox lustroso filmado em 35 mm. Tenhamos confiança. Com esta estratégia, o Serra poderá tocar o seu programa de um jeito pobre, mas limpinho, por mais 20 edições, com dezenas de "fala, povo" e, quem sabe, até com algumas piadas novas para substituir a do genérico para careca. Resta saber se a campanha de Dilma sustentará este mundo da fantasia durante muito tempo sem que as pessoas percebam, no contraste com Serra, que a falsidade vai além do cenário e da trucagem. Simbologia demais, compreensão de menos. Creiamos, assim, que a pobreza do primeiro programa de Serra tenho sido intencional, fruto de centenas de pesquisas qualitativas.Pois se não for assim, não se trata mais de bater ou não bater na Dilma. Se trata de bater com a cabeça na parede. Tenhamos confiança, pois.