Lula desanca a imprensa na Piauí(5)

Jornalista: E quando o caso é enrolado? Por exemplo, o negócio das telecomunicações. Que envolveu um monte de gente, Daniel Dantas, Zé Dirceu de um lado, Gushiken, jornais (inaudível), jornalistas (inaudível). É um caso enrolado, envolve milhões, bilhões de reais, envolve grandes empresas e envolve a imprensa. O que se faz, enquanto não se tem uma decisão?

Presidente: Publica-se apenas a verdade. O que você não pode é insinuar que todo mundo é ladrão sem nenhuma prova, (inaudível) que você quer insinuar. Se você descobre que uma determinada pessoa praticou um delito qualquer, uma fraude qualquer, você faz a denúncia e investiga. O que você não pode é ficar fazendo ilações, ilações e mais ilações. Depois, passa o tempo e você não prova nada contra ninguém, mas ficaram as ilações feitas. A gente poderia pegar exemplos históricos no Brasil. O Alceni Guerra é um deles. A gente poderia pegar a Escola Base, e tantas outras coisas que acontecem. Esses dois foram os casos mais famosos, mas você pode pegar outros casos.
A imprensa tem um papel nobre, que eu acho que é a sustentação da democracia, que é a informação. A partir da informação, muita coisa acontece no mundo: cai governo, entra governo, cai general, entra general, a partir da informação. Agora, quando você transforma essa informação em um instrumento político e começa a fazer ilações sobre isso, eu acho que a nobreza diminui, e aí entra a politicagem, a má-fé. Durante a campanha eleitoral, eu fui a uma cidade – não vou dizer qual – em que se dizia o seguinte: um candidato tinha um canal de televisão então ele apareceu em 66 reportagens durante a campanha, e o adversário não apareceu em nenhuma. Não é possível que o adversário não tenha criado um fato político que merecesse um minuto na televisão.Eu penso, Mário Sérgio, que com toda a grandeza que eu tenho dito na minha vida... Eu falo que só cheguei à Presidência da República por causa da liberdade de imprensa. Distorcido ou não, bem ou não, o fato concreto é que como eu acredito na capacidade de discernimento do povo brasileiro – e do povo de qualquer mundo – as coisas acontecem independentemente da má vontade desse ou daquele órgão, desse ou daquele jornalista.

Jornalista: Agora, por que o senhor criou a TV pública? Por que o seu governo criou essa TV pública?

Presidente: Porque eu acho que é necessário.

Jornalista: Por quê?

Presidente: Porque no mundo desenvolvido você tem outras coisas a informar, além daquilo que dá ibope. Eu não posso fazer dos meios de comunicação apenas uma coisa de interesse mercadológico. Nós queremos uma TV pública para informar, para promover debates sobre temas que, certamente, a TV privada não tem interesse porque... Se colocar a televisãozinha na frente do Ibope ali e começar a cair, muda de assunto imediatamente.

Jornalista: Eu vi uma entrevista ontem, lá, dos presidentes. Parece que é uma coisa chata pacas também, né?

Presidente: Pode, mas se você for fazer só as coisas agradáveis, aí você transforma no que é hoje. Você não tem no Brasil hoje, com exceção do Roda Viva, um espaço de debate político no Brasil, os grandes temas da sociedade não tem o que ser debatido. Então, eu acho que a TV Pública cumpre esse papel. Primeiro, ela não se dispõe a disputar um espaço mercadológico com as empresas privadas, mas ela se propõe a disputar e ganhar espaço na informação, no debate dos grandes temas nacionais, que parece que são tabu serem discutidos. Você pode pegar a questão das células-tronco, você pode pegar a questão do aborto, você pode pegar a questão da crise econômica. Houve um tempo em que neste país tinha debate. Você levava os grandes economistas para um debate. Hoje você não vê mais isso. Hoje, quando você vê uma discussão sobre economia, você vê quem? Um analista de mercado. Mulheres como Maria da Conceição Tavares, como Belluzzo, como Delfim não têm muito espaço na televisão. Você não vê mais os economistas sendo chamados a falar sobre assuntos que são pertinentes aos economistas. Então, a TV Pública, eu espero – ela está em fase de montagem ainda – que ela cumpra essa função.

Jornalista: Mas o senhor vê?

Presidente: Muito pouco, porque ela não foi feita para mim. Ela foi feita para a sociedade brasileira. Nós estamos numa fase de comprar equipamentos ainda, de montar. Eu penso que até o final do mandato ela vai estar mais ou menos pronta e aí acaba aquela bobagem de dizerem que foi feita uma televisão para o Lula. A primeira orientação que eu dei ao companheiro Franklin foi a seguinte: se a televisão for puxa-saco do governo, ela será chata; se ela for só oposição, ela será chata. Encontrar esse ponto de equilíbrio é como a chuva. A chuva, quando chove demais, os agricultores sofrem; quando chove de menos, os agricultores sofrem. Ela tem a quantidade certa. Então, o que eu quero é isso, é que a TV Pública seja o equilíbrio da maturidade da informação no Brasil, nem ser chapa-branca, mas também não ser chapa-marron.

Jornalista: Presidente, o que o senhor gosta de ler? Elio Gaspari, o senhor gosta de ler?

Presidente: Eu tenho profundo respeito pelo Elio Gaspari, e o acho um dos grandes jornalistas brasileiros, independentemente de gostar dele.

2 comentários

Ah,se esse povo que ele tanto distingue tivesse noção para que serve essa TV! Nunca acabarão de comprar equipamentos,nunca!

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Interessante o Lula dizer que a TV pública não foi feita p'ra ele, mas sim para a sociedade brasileira, sendo esse o motivo pelo qual ele não assiste os programas. Então o "noço" Presidente não pertence à sociedade brasileira? Será da cubana?

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