Maio de 68.

Escreveu-se muitas bobagens sobre maio de 1968. Mas é maravilhoso e surpreendente este mundo dos links. Ao descobrir a Feira Nacional do Livro, em Madrid, encontrei o blog do escritor João Paulo Cuenca, destaque brasileiro deste ano. Um escritor que nasceu em 1978, dez anos depois daquele maio tão comemorado aqui no Brasil, especialmente pelos dinossauros nos seus discursos caquéticos. É dele o texto abaixo:

"Não foi em maio, e sim em setembro de 68 que Caetano Veloso respondeu às vaias do público que lotava o Teatro da PUC de São Paulo para as finais do Terceiro Festival Internacional da Canção: “Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? (...) Vocês estão por fora! Vocês não dão para entender! Mas que juventude é essa? Vocês jamais conterão ninguém!” E ainda: “Gilberto Gil está comigo pra nós acabarmos com o festival e com toda a imbecilidade que reina no Brasil! Acabar com tudo isso de uma vez! (...) Se vocês em política forem como são em estética, estamos feitos!” E para terminar com chave de ouro: “Deus está solto!” Antes tentava cantar “É proibido proibir”, com refrão inspirado nas palavras de ordem que os estudantes franceses usaram poucos meses antes. Levou a vaia histórica porque Geraldo Vandré era o preferido da audiência, porque o pessoal achou que ele estava usando um penteado esquisitão demais e porque usar guitarras elétricas naquele momento era, em si, um ato revolucionário que aquele revolucionário público era incapaz de entender. É doloroso constatar que Caetano poderia repetir tudo hoje – com exceção da declaração sobre Gil, que ganharia um ar de comicidade que não tinha em 68. Sobre os jovens, nem Caetano nem ninguém àquela altura poderia imaginar que a juventude dos anos dois mil e zero seria tão mais conservadora e desinteressada por tudo o que não seja óbvio. Num momento em que brilha ao retomar referências e uma formação musical de justamente quarenta anos atrás (uma banda de rock), Caetano parece mais avant-garde do que os jovens que vão aos seus concertos e que são parte da sua banda. E isso fala mais, muito mais, contra a audiência, contra os tempos de hoje, e contra o Brasil de hoje, do que contra Caetano. O esperado seria que ele, a sua geração e toda essa cantilena de maio-de-68 já tivessem sido superados por outras obras e revoluções, políticas e estéticas. Mas não foram. Ainda vivemos nessa dinossáurica e interminável rebarba do século XX. Mesmo que em forma de chocolates e coletâneas de greatest hits."