(O Globo) A íntegra de um relatório da Polícia Federal, anexado esta semana a 
um dos inquéritos da Operação Lava-Jato que investigam a Construtora 
Norberto Odebrecht, comprova declarações de delatores de que a maior 
empreiteira do país tinha acesso a informações privilegiadas da 
Petrobras e o poder de influenciar licitações da estatal. É o que mostra
 o objeto principal do relatório: uma série de e-mails trocados entre 
diretores da empreiteira com relatos sobre encontros com dirigentes da 
estatal para tratar de concorrências e contratos.
 Em pelo menos duas mensagens de 2007, recuperadas pela Polícia 
Federal, Rogério Araújo, então diretor da Odebrecht Plantas Industriais e
 que hoje é um dos presos da Lava-Jato, traça uma estratégia para a 
participação da empreiteira na licitação para as obras de terraplanagem 
da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, a partir de informações que 
teria obtido de “interlocutores” na estatal sobre o “orçamento interno” 
do projeto. O GLOBO cruzou o conteúdo das mensagens com a cronologia da 
contratação do serviço: naquele momento, o “orçamento interno” era uma 
informação confidencial da Petrobras. A obtenção desse dado permite às 
concorrentes fraudar a competição.
A
 concorrência para as obras de terraplanagem do terreno onde foi 
instalada a refinaria foi aprovada pela diretoria da Petrobras no dia 3 
de maio de 2007, de acordo com documentos internos da estatal obtidos 
pelo GLOBO. No dia 10 de maio, a companhia convidou dez participantes. 
Pouco mais de um mês depois, no dia 18 de junho, Araújo enviou um e-mail
 para outros dois executivos da empreiteira relatando saber que o 
orçamento interno da Petrobras ficaria entre R$ 150 milhões e R$ 180 
milhões. 
Segundo a reprodução das mensagens no relatório da PF, ele diz 
ter falado com “interlocutores” e avisa que “Engenharia” já trabalhava 
na revisão do orçamento, como queria a Odebrecht. “A revisão do 
orçamento vai indicar um novo número, acima dos indicados acima”, 
antecipa. No texto, ele ainda registra que o valor só seria tornado 
público com a abertura das propostas dos concorrentes, que aconteceria 
quatro dias depois.
No dia 22 de junho, a Petrobras recebeu cinco propostas. A menor foi 
justamente a do consórcio liderado pela Odebrecht (com Camargo Corrêa, 
Galvão Engenharia e Queiroz Galvão, todas investigadas na Lava-Jato), de
 R$ 433,5 milhões. O preço ficou bem próximo ao intervalo de preços 
estimado pela Petrobras, observa a PF. 
Segundo documento da diretoria da
 Petrobras, que aprovou a contratação do consórcio em 12 de julho de 
2007, o valor ficou apenas 5,32% abaixo do que o diretor da Odebrecht 
chamava de “orçamento interno” da estatal. Depois de uma nova 
negociação, o desconto aumentou para 6,27%. Araújo, ao que parece, 
logrou êxito. De fato, o valor estimado pela estatal para o projeto, 
revelado quatro dias depois da troca de mensagens na Odebrecht, foi 
maior do que o dobro dos R$ 180 milhões citados pelo diretor da 
empreiteira como uma cifra “que obviamente não dá”.
“TEATRO” PARA LULA
O
 fácil acesso a informações da Petrobras fica claro em um outro e-mail 
de Araújo, sobre uma cerimônia simbólica do início do contrato no 
terreno onde seria construída a refinaria, em Pernambuco, com a presença
 do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Araújo explica que a 
assinatura do contrato se daria no Rio, mas que seria preciso criar um 
cenário de obra em andamento para Lula, em meio a tratores e máquinas. 
“Vai haver uma solenidade no Recife, no dia 16 de agosto, para dar 
início aos serviços de terraplenagem, com a presença do presidente Lula.
 Neste dia, teremos que ter alguns equipamentos já mobilizados, para 
fazer parte do ‘teatro’!”
A cena montada pela Odebrecht ainda atrasou 19 dias. Só no dia 4 de 
setembro, o então presidente Lula discursou sob intensa chuva no 
palanque montado pela construtora ao lado do então presidente da 
Petrobras, José Sergio Gabrielli. Animado pelo gigantismo da refinaria, 
Lula comparou o empreendimento à construção da Muralha da China. 
“Temos 
uma verdadeira muralha da China para construir e vamos construir”, 
prometeu. A Refinaria Abreu e Lima só iniciou operação em 2014 e custou 
pelo menos sete vezes o valor orçado inicialmente pela estatal. Laudo da
 PF sobre o contrato de terraplanagem detectou um sobrepreço de R$ 106,1
 milhões no contrato de compactação de aterro. Só o custo do metro 
cúbico compactado de solo pulou de R$ 2,70 para R$ 6,37 sem 
justificativa plausível.
O relatório da PF tem outras trocas de mensagens com indícios de que a
 influência da Odebrecht alcançava até negócios da Petrobras no 
exterior. Em um e-mail de 2008, Araújo cita a intervenção do então 
diretor Internacional da Petrobras Jorge Zelada (preso na semana 
passada) e de Ricardo Abi-Ramia, que foi gerente executivo de 
Desenvolvimento de Negócios da área Internacional para falar com 
Hércules Ferreira da Silva, ex-gerente da Petrobras Angola. No fim 
daquele ano, a empreiteira foi contratada para fazer o acesso à 
refinaria Sonaref, na cidade de Lobito, em Angola.
 


 
 
 
 
8 comentários
Coronel,
ReplyFoi a única vez na vida que este VAGABUNDO, IMPOSTOR, pegou numa enxada.
Sujeito asqueroso, vil e desprezível.
Peraí, deixa eu fazer as contas... parece que os 3% são bem mais salgados do que se pensava... se uma obra era para custar R$ 180 milhões e saiu por R$ 430, quer dizer que houve um sobre preço de quase 140% sobre o valor original, ou se considerarmos o valor cheio, temos uma propina próxima de 60%.
ReplyAcho que até BANDIDO TEM VERGONHA DE SER CHAMADO DE PETISTA!!!
+ Marcelo F
¨Lula inaugurar obras¨. Senhores, não subestimem a burrice do povão brasileiro e a verdadeira adoração que este tem com esta tranqueira. Ele, Dilma e o PT estão levando tiro de todo lado e em pesquisas o semianalfabeto larápio ainda dá trabalho se concorrer para presidente, fala sério!
ReplyQuer dizer então que a Odebrecht tinha uma filial que cuidava de teatro, né?
ReplyMas que os caras entendem desse assunto já está comprovado, como noutro local com as pás carregadeirase tudo o mais!
Cada cenário deslumbrante, mas obra que é bom, necas de pitiriba, a não ser os "pagamentos" pelas mesmas - depenando o Brasil prá ajudar na construção da tal "Patria Grande"...
e o cara da VEJA diz que não ha motivos para manter o marcelinho atras das grades...
Replygrande babaca...
um país inteiro que é alienado por novela das oito e futebol, é só fazer um teatrinho que o gado aceita (e aplaude).
ReplyCoronel,
Replytá chegando no velhaco e na rainha louca. O desespero é tanto que não tem Lexotan ou Rivotril que dê jeito.
Coronel, Mussolini já fazia esse teatro no 1930 ou por aí. Não deu certo.
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