Aécio: silêncio de Dilma é sinal de covardia.

Abaixo, entrevista concedida por Aécio Neves, presidente do PSDB, ao blogueiro Josias de Souza:

— O que achou da reação do governo às manifestações deste domingo? Achei inacreditável. Estão a anos-luz de distância do que está acontecendo no Brasil. A declaração simplista do ministro Miguel Rossetto de que só adversários do governo foram às ruas mostra um distanciamento da realidade. Eles não conseguem perceber o mau humor crescente da sociedade. É como se ele dissessem: ‘os nossos eleitores estão lá, recebendo o Bolsa Família. Está tudo bem com eles. Isso não vai acabar bem. O ministro José Eduardo Cardozo repete o mesmo discurso da campanha: ‘Ah, vamos lançar um pacote de projetos contra a corrupção’. Como se alguém ainda pudesse acreditar nisso. Fala de reforma política como se fosse uma panaceia. Vem com o discurso hipócrita de acabar com o financiamento privado de campanha.

— Por que acha o discurso hipócrita? No ano passado, na campanha eleitoral, ninguém recebeu tanto recurso como o PT. No ano anterior, 2013, em que não houve eleições, eles arrecadaram R$ 70 milhões. Nós arrecadamos R$ 2 milhões. De uma hora pra outra eles vêm dizer que isso não faz bem. Estão no poder há 12 anos. Ninguém se beneficiou tanto do financiamento privado quanto eles. Numa hora dessas, os ministros não eram as pessoas mais indicadas para falar.

— Acha que a presidente Dilma deveria se manifestar? O silêncio da presidente Dilma é um sinal de covardia. Ela perde oportunidades sucessivas. Era hora de olhar no olho das pessoas e fazer um mea culpa. É muita falta de coragem. Os estadistas precisam ter coragem, sobretudo nos momentos mais difíceis.

— O ministro Cardozo disse que o governo busca o diálogo. Inclusive com a oposição. Acha possível? Não vejo sinceridade nessa manifestação. As palavras precisam ser acompanhadas de atos e gestos. E isso não existe. A manifestação dos ministros continua sendo presunçosa, acima do bem e do mal. Não admitem os próprios equívocos. Como dialogar com uma presidente que vai à televisão para dizer que a culpa pelas medidas que ela está tomando é da crise internacional e da seca? A presidente Dilma zomba da inteligência dos brasileiros.

— O que precisaria acontecer para que a oposição sentasse à mesa com o governo? Em primeiro lugar, seria preciso que a presidente fizesse um mea culpa. Algo verdadeiro, real, convincente. Não é para convencer a mim. Ela precisa falar para os brasileiros, para os 60% que, segundo o Datafolha, acham que ela mentiu na campanha presidencial. Depois, seria necessário ter uma agenda corajosa, do interesse do país. Não pode ser uma agenda do interesse apenas do PT. O governo não tem essa agenda.

— O governo não tem uma agenda econômica? Eles não têm agenda nem na área econômica. Esse ajuste fiscal é uma coisa absolutamente tímida, não vai nos levar a lugar nenhum. De um lado, aumenta impostos. De outro, suprime direitos. Não há uma agenda estruturante. Insisto: não vejo sinceridade nessa alegada disposição o diálogo. Não creio que eles queiram uma conversa franca, em favor do país. O que eles querem é criar um ambiente menos desfavorável no momento em que o governo está nas cordas. Sem sinceridade, não temos como participar disso.

— A primeira vez que a presidente Dilma falou em diálogo foi no dia da abertura das urnas do segundo turno. Acha que ela foi insincera já naquele instante? Na política, o simbolismo tem certa importância. Nesse dia, 20 minutos depois de oficializado o resultado das urnas, liguei para a presidente. Eu a cumprimentei pelo resultado e disse: sua grande tarefa é unir o país. Nessa hora, dei uma sinalização. Ao discursar, ela sequer citou o telefonema. Isso é uma coisa tradicional em qualquer parte do mundo. Teria sido bom para ela. São essas pequenas coisas que denunciam as reais intenções. Ela falou em diálogo no discurso e não dialogou com ninguém. Montou um governo medíocre, repetindo as piores práticas, sem levar em conta a meritocracia, a competência.

— Por que decidiu não comparecer às manifestações? Primeiro, preciso dizer que ficamos muito satisfeitos com o fato de ter caído por terra a conversa de que os protestos eram articulados por nós. No dia do primeiro panelaço, eles ensaiaram o discurso de que tudo se resumia a uma reação partidária. A pressão para que eu fosse era enorme. Refleti muito sobre isso. E achei que não deveria passar a impressão de que estávamos nos apropriando de algo que não tinha sido organizado por nós. E não queria validar o discurso do governo de que tudo se resume a um terceiro turno. Ficou muito claro que não foi uma manifestação de partidos políticos. Foi uma iniciativa da sociedade. Os protagonistas não éramos nós.

— Embora a presidente Dilma tenha sido o principal alvo da manifestação, não receia que esse movimento, de aparência apartidária, esconda uma aversão a todos os políticos, como na jornada de 2013? Ando muito pela rua. É impressionante o que está acontecendo. Posso estar enganado, mas creio que teria sido muito bem recebido nas manifestações. Meu sentimento é esse. Chega um momento que os protestos precisam de lideranças que lhes dêem voz. Esse sentimento de repulsa à presidente e ao governo dela precisa ser canalizado para algumas ações. E quem tem musculatura política somos nós. Digo isso com tranquilidade. Acho que é bom para o Brasil que seja o PSDB, porque todos sabem que não somos incendiários. Imagine se fosse o inverso, com o PT na oposição. O que estaria acontecendo hoje no Brasil? Quem não se lembra do Fora FHC? Temos que ter todas as cautelas. Mas há uma certa expectativa das pessoas de que exista um canal que expresse esse sentimento. Um movimento desse tamanho não pode ficar por isso mesmo.

— O que muda na estratégia da oposição? Nesta terça-feira vamos fazer uma avaliação maior. Quero ouvir os principais líderes de oposição. Já liguei para alguns. Gente do PPS, do DEM, PSB, do PDT e até do PMDB. Quero ver de que forma podemos dar um passo à frente.

— Qual seria esse passo à frente? Precisamos definir qual é a nossa agenda. Faremos isso a partir do que as pessoas estão cobrando. Se o governo não se mexe, agimos nós. Vamos construir três ou quatro propostas consensuais. Precisamos vocalizar politicamente essa contestação ao governo. Isso nos revigora.

— Na época do mensalão, havia o mesmo sentimento. E nada mudou. Por que acha que agora será diferente? Na época do mensalão, avaliávamos que a situação era muito grave. Mas o Lula tinha um pedaço grande do país com ele. Concluímos que não seria bom para o país uma ruptura. Agora, depois de 12 anos de governos do PT, é a primeira vez que eles encontram uma oposição conectada com o sentimento das ruas. Isso é algo que eles não tinham enfrentado ainda.

— Acha que a polarização PT X PSDB vai se manter? A eleição passada começou com um discurso muito sedutor de terceira via. Foi feito pelo Eduardo Campos e, depois, encampado pela Marina Silva. Dizia-se que estavam todos cansados dessa polarização PSDB-PT. E havia mesmo um certo cansaço. Foi uma boa tentativa, uma estratégia válida. Mas o imponderável fez com que a eleição terminasse mais polarizada do que nunca. O PSDB voltou a ser a alternativa real ao que está aí. Isso ficou até mais forte do que em eleições passadas. Quem olha para o PT e não vê futuro se vira para o nosso lado. Vivemos um momento de reorganização e fortalecimento da oposição em torno do PSDB. Há movimentos nas franjas dos partidos governistas. Alguns envolvem gente que já esteve conosco no ano passado. Gente como o governador Pedro Taques (MT), do PDT. Um pedaço saudável do PP, especialmente o gaúcho, personificado na senadora Ana Amélia. Pedaços do PMDB, como os senadores Ricardo Ferraço (ES) e Luiz Henrique (SC). Há uma robustez maior do nosso campo.

— Dilma Rousseff concluirá o mandato? É cedo para dizer. De minha parte, tenho tido muita cautela. Por isso decidi nem comparecer às manifestações. Não quis dar margem a nenhum tipo de especulação. Hoje, nossa preocupação é a de construir nesse campo da oposição uma agenda nova para o país. A presidente Dilma se complica sozinha. Hoje, ela é refém do Renan Calheiros e do Eduardo Cunha [presidentes do Senado e da Câmara].

13 comentários

GOSTEI ! A unica fala que Aecio ainda insiste e' nessa tal do ''mea culpa''; ninguem, muito menos uma guerrilheira fara' isso. E nao deve fazer, pro nosso bem pois Aecio esquece que o latino tem inerente ``um sentimentalismo barato'', o que provocaria em muitos o ``coitadismo`` do tipo - olha ela reconheceu, foi humilde, merece uma chance, fiquei com do'; brasileiro simpatiza com essa caracteristica; foi assim, depois que duda mendonca transformou lula em `paz e amor` que ganhou as eleicoes; hoje ele mostra sua selvageria. De resto achei muito boa suas respostas e observacoes.

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Comentando sobre a questão do "passo à frente" quero ver se o PSDB tem coragem de propor a redução do ESTADO, reduzir os custos dos legislativos, eliminar municípios sem viabilidade e por aí afora.
Cortaram benefícios dos aposentados do INSS. Será que fizeram o mesmo para os aposentados do funcionalismo?
PSDB. Tem coragem de encarar isto?

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É preciso ser um idiota completo para acreditar nesta babaquice de "coração valente". Simples produto de marqueteiro.

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Que a oposição entenda que não é apenas a corrupção, mas o que está nos bastidores.

"...mega protesto contra o PT que aconteceu em Copacabana, no Rio de Janeiro. Observem que, como já afirmei aqui no blog, o protesto não é apenas pelo impeachment da Dilma, mas de repúdio total e irrestrito ao PT e a ameaça do golpe comunista que esses vagabundos revestem de "reforma política". Tanto é que os manifestantes gritam: "a nossa bandeira jamais será vermelha'.

Causa espécie o fato de ver que após ser repudiado nas ruas de todo o Brasil, com milhares nas ruas de Norte a Sul do Brasil, os ministros da Dilma deram uma entrevista propagada pelos mentirosos da Rede Globo, CBN e demais emissoras, ensaiando os próximos passos do PT: a tal 'reforma política bolivariana' que nada mais é que um golpe comunista como ocorreu na Venezuela, na Bolívia, no Equador, na Nicarágua e na Argentina.

E o pior de tudo é que a grande mídia e seus jornalistas esquerdistas, que cumprem missão do Foro de São Paulo nas redações, já estão dando as suas versões dos protestos. Nós também temos de nos livrar dessa gente. Basta que o público brasileiro deixe de comprar esses jornalecos vagabundos editados por esses psicopatas depravados e parar de ver as Redes de Televisão, sobretudo a indigitada Rede Globo e sua pústula denominada CBN, locus que abriga a idiotia esquerdista vagabunda e mentirosa."

“GRANDE MÍDIA TENTA MAQUIAR AS NOTÍCIAS DO MEGA PROTESTO PROCURANDO SALVAR O PT. É UMA VERGONHA! NO RIO DE JANEIRO POVO GRITOU: 'FORA PT! FORA TV!"

http://aluizioamorim.blogspot.com.br/2015/03/grande-midia-tenta-maquiar-as-noticias.html


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Aécio deveria falar com Ronaldo Caiado, um democrata, porque o buraco é mais em baixo:
Ronaldo Caiado:" ministro da Venezuela que forma as milícias rurais faz acordo com o MST . “Governo socialista no Brasil é GOLPE.... onde está a soberania brasileira?...é um processo que tentam as vezes ridicularizar esta oposição nossa..é a ONU que está dizendo, o Brasil mantendo convenio com um país que hoje é referência da truculência da violência do desrespeito aos direitos do cidadão essa é a referencia para vir aqui com o MST dizer como deve agir no Brasil...vou entrar na Procuradoria Geral da Republica, se não tivermos uma resposta.., por crime de responsabilidade sob Vossas Excelências que hoje se ocultam atrás da responsabilidade de responder aos brasileiros. Essa é grave ameaça ao a Constituição que é feita pelo Governo montado pelo MST... ”

https://www.youtube.com/watch?v=8eJXHSYQn_k

Onde está a oposição ou será que acreditam que o roubo é apenas para enriquecer? Me engana que eu gosto.

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Ela está é acuada, com medo; entre eles certamente comentam que a maré não está para peixe, apesar de externamente disfarçarem que isso são coisas de democracia...
Não esperavam tanta reação do povo!

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Os petralhas estavam torcendo para que Aécio participasse das manifestações, para depois malharem o movimento como se fosse político-partidário. Mas se esqueceram de que Aécio tem nas veias o sangue de Tancredo, o maior pensador e articulador político que este país já teve.

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Faço minhas suas palavras. No mais Aecio está no caminho certo.

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Dilma não demonstra só covardia, está perdida mesmo.

Boa frase dita pelo Prof.Marco Antônio Villa, hoje na Jovem Pan:

"Dilma está mais perdida do que Lula numa biblioteca"!


Muito boa a entrevista de Aécio. Agora espero vê-lo no Senado fazendo oposição aguerrida, implacável contra este desgoverno. Chegou a vez da Oposição começar a falar grosso.



Chris/SP

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O Povo para começar quer a cabeça da Rainha Vermelha Louca, mas não vai parar por aí. Ainda tem o Lularápio, Zé Dirceu, muitos outros esses ficam pra depois.

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Achei Aécio muito ponderado e com muita tranquilidade. Entendo que, neste momento, é a liderança que pode e deve canalizar as aspirações do povo brasileiro. Que seja bem sucedido!!

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16 de março de 2015 10:25

Espero que tenha razão, esse pessoal é bem treinado. Sabe como fingir um desmaio, como nos filmes, depois levanta e dá uma paulada no mocinho.

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Ao anônimo de 16 de março, às 06:16.

Quando o Covas foi eleito, governador de São Paulo, uma das primeiras ações que ele fez foi fazer uma limpa nos quadros de funcionários. Neste ano, o Alckmin, ordenou corte de 15% de funcionários, em todas as secretarias e autarquias. Isto não foi a primeira vez. Já aconteceu em outros anos. Sendo assim sou fã do PSDB e odeio o PT. Fora PT! Fora Dilma!

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