O antropólogo e marqueteiro político do PSDB, Renato Pereira, diz não acreditar que o mensalão "tenha muito impacto" na eleição de 2014. Em entrevista à Folha e ao UOL, ele afirma que há "uma sobrevalorização" a respeito do possível efeito eleitoral do julgamento, que envolve políticos do PT e deve se estender pelo próximo ano. Aos 53 anos, ele foi escolhido pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) para fazer os programas de TV tucanos. Deve comandar no ano que vem o marketing aecista na corrida presidencial, junto com seu sócio, o também marqueteiro Chico Mendez.
Nascido na Suíça, filho de diplomatas, acumula a experiência de ter cuidado
da propaganda das campanhas vitoriosas do governador do Rio, Sérgio Cabral, e do
prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes, ambos do PMDB. Fez também as duas
campanhas do candidato de oposição derrotado na Venezuela, Henrique Capriles.
O marqueteiro acha que uma eventual candidatura a presidente de José Serra
por outro partido ajudará a oposição, já que eleva as chances da disputa chegar
ao segundo turno. Mas seria um desfecho ruim para o PSDB, que não demonstraria
unidade. Pereira pretende reforçar no imaginário dos eleitores as dúvidas sobre o
futuro --para ele, há um sentimento de insegurança por causa do crescimento
econômico moderado ou muito baixo. Leia trechos da entrevista:
Folha/UOL - O PT tem a imagem de ser o partido do social. O PSDB, não. Por quê?
Renato Pereira - Não acho que haja uma diferença de essência em relação ao compromisso social entre PT e PSDB. O PSDB perdeu a sua identidade popular, quando se fala nacionalmente. Regionalmente, o PSDB continuou muito forte, capaz de vencer eleições. Nacionalmente acabou se configurando uma imagem de partido que não está comprometido com a agenda social, e de um partido que talvez tivesse mais compromissos com a elite.
Folha/UOL - O PT tem a imagem de ser o partido do social. O PSDB, não. Por quê?
Renato Pereira - Não acho que haja uma diferença de essência em relação ao compromisso social entre PT e PSDB. O PSDB perdeu a sua identidade popular, quando se fala nacionalmente. Regionalmente, o PSDB continuou muito forte, capaz de vencer eleições. Nacionalmente acabou se configurando uma imagem de partido que não está comprometido com a agenda social, e de um partido que talvez tivesse mais compromissos com a elite.
Por que aconteceu isso?
Pelo PSDB não estar mais na Presidência. Quem está exercitando a Presidência
é o PT. Houve uma melhoria de vida de uma parcela importante da população. É
normal que se atribua a quem está gerindo o país neste momento. É normal padecer de alguns males quando você está na oposição. Sua história
passa a ser contada com alguma eficiência por aqueles que estão no exercício do
poder. É algo que também aconteceu ao PSDB. O PT conseguiu fazer isso com alguma
competência nos últimos anos, manifestar sempre como ele via o PSDB, como via o
passado do país. Parte de nossa tarefa agora é atualizar a imagem do PSDB.
Parte grande do eleitorado diz nas pesquisas que sua vida melhorou. Esse é um obstáculo intransponível?
Parte grande do eleitorado diz nas pesquisas que sua vida melhorou. Esse é um obstáculo intransponível?
São duas perguntas que o eleitor se faz. Tem a "poxa, eu estou vivendo melhor
ou estou vivendo pior em relação ao passado?". Hoje, a maior parte da população
vai dizer: "Estou vivendo melhor do que eu vivi no passado". Mas a pergunta mais importante é esta: "Qual é a minha perspectiva de dia
seguinte?", ou "qual é a minha perspectiva de futuro?" Se você pergunta hoje ao cidadão se ele acha que a vida vai melhorar ou
piorar nos próximos meses, a maior parte tem insegurança. Se você perguntar se os preços vão continuar aumentando ou vão diminuir, dois
terços vão dizer que vão continuar aumentando. Vai vencer a eleição quem
transmitir confiança, segurança.
Aécio consegue transmitir essa segurança ao eleitor?
Aécio consegue transmitir essa segurança ao eleitor?
É um processo. As janelas de comunicação de que dispõe o PSDB e o senador
Aécio Neves hoje ainda são modestas. No ano que vem e ao longo da campanha é
quando vão existir as condições para uma comunicação mais próxima nessa direção.
Quando tudo está dando mais ou menos certo a tendência do eleitor é manter no poder a força que já o ocupa?
Quando tudo está dando mais ou menos certo a tendência do eleitor é manter no poder a força que já o ocupa?
Não. Porque está tudo dando "mais ou menos" certo. Se for uma força que está
dando certo, eu te diria que sim. Mais ou menos dando certo, já são outros
quinhentos.
Tudo certo foi em 2010, com a eleição de Dilma Rousseff?
Tudo certo foi em 2010, com a eleição de Dilma Rousseff?
Claro. Você tinha a economia crescendo muito, um boom das famílias
brasileiras, renda melhor, acesso a muito mais bens de consumo, a mais
alimentos, mais direitos. Agora, esses milhões de pessoas que conseguiram
prosperar não são fiéis a ninguém. A preocupação delas é com o próximo passo,
como vai ser o dia de amanhã.
Qual será a síntese do discurso de Aécio Neves em 2014?
Qual será a síntese do discurso de Aécio Neves em 2014?
É "quem muda o Brasil é você". Por quê? Por duas razões. A grande mudança nos
últimos anos --redução da desigualdade e a emergência de milhões de
brasileiros-- se deve em grande parte ao esforço de cada uma dessas pessoas. Os
brasileiros conquistaram melhor lugar ao sol graças ao mérito próprio. O segundo ponto tem a ver com a agenda mais liberal que o PSDB carrega em
relação à economia. É uma visão de que o agente da mudança não é essencialmente
o Estado. O agente da mudança está na sociedade. São os indivíduos, são as
empresas, é a sociedade civil organizada.
Adversários de Aécio questionam seu estilo de vida pessoal. Isso o prejudicará?
Adversários de Aécio questionam seu estilo de vida pessoal. Isso o prejudicará?
Isso tem um efeito bastante limitado porque não é plenamente verdadeiro. Ele
é uma liderança política brasileira com uma gestão admirável em Minas Gerais.
Tem um legado efetivo como gestor. Do ponto de vista pessoal, você tem um candidato leve, com espírito jovem,
capaz de se comunicar muito bem. Capaz de chegar ao nível de proximidade e
conversar com intimidade, naturalidade.
E o mensalão, que impacto terá no ano que vem, na eleição?
E o mensalão, que impacto terá no ano que vem, na eleição?
Não creio que tenha muito impacto, assim como já não teve no passado. A gente
acabou de sair de uma eleição, em 2012, em que se teve todo o drama público do
julgamento, acontecendo diante da televisão. Não vi nenhuma candidatura do PT
sendo prejudicada por causa disso. Acho que tem uma sobrevalorização enorme em relação a isso. Na minha opinião,
não é um tema particularmente relevante para o eleitor.
Há acusações nesse campo de corrupção contra o PSDB, o chamado mensalão mineiro. Esses casos se neutralizam?
Há acusações nesse campo de corrupção contra o PSDB, o chamado mensalão mineiro. Esses casos se neutralizam?
Nunca avaliei especificamente se acabam se neutralizando. É uma hipótese a se
testar. O que eu avaliei objetivamente é impacto do mensalão sobre as eleições e
sobre a decisão do voto. Na sua maioria, tirando um eleitor de classe média mais
alta, esses temas não têm uma penetração tão grande assim.
Quais dos nomes já citados como pré-candidatos a presidente serão competitivos?
Quais dos nomes já citados como pré-candidatos a presidente serão competitivos?
Temos quatro candidatos competitivos em 2014: Dilma, Aécio, Marina [Silva] e
Eduardo [Campos].
José Serra seria competitivo?
José Serra seria competitivo?
Mais difícil de responder a essa pergunta. Se você considerar aspectos das
últimas pesquisas, talvez fosse.
Se Serra se engajar na campanha de Aécio, ajuda?
Se Serra se engajar na campanha de Aécio, ajuda?
Nunca testei essa hipótese em pesquisa, mas creio que sim. Porque você tem um
partido mais unido, com as suas forças trabalhando lado a lado. Imagino que sim.
Se Serra for candidato a presidente por outro partido, é bom ou ruim para a oposição?
Se Serra for candidato a presidente por outro partido, é bom ou ruim para a oposição?
Acho que para a oposição, quanto mais nomes você tiver capazes de atrair o
eleitor, melhor. Isso é uma coisa matemática: quanto mais candidaturas de
oposição, mais chance de segundo turno.
E para o PSDB?
E para o PSDB?
Para o PSDB, aparecer como um partido que está unido é mais positivo do que
ter líderes que são importantes trabalhando em partidos separados. Para o PSDB,
é melhor que esteja todo mundo junto no mesmo barco.
Aqui a entrevista na íntegra:
Aqui a entrevista na íntegra:
10 comentários
Ele não deveria ter tanta certeza disto. tenho contato com muitas, muitas pessoas aqui na internet que estão com muita raiva do PT por causa do mensalão e ficaram mais revoltadas depois dos embargos infringentes. Aqueles interesseiros em se aproximar do PT para tentar uma boca de roubar também provavelmente não se importará.
ReplyLembrando os discursos egocêntricos do Serra, distantes da fala que o povo gosta, e agora avisando que o novo marqueteiro do psdb é nascido na Suíça, filho de diplomatas, já ficamos atentos: "campanha para punhos de renda" ou campanha para entrar na alma do povão?
ReplyAí mora o perigo, daí depende a vitória!
GENIAL ! Contou quase todas as estrategias que utilizará e , claro, como a gang do pt não copia nada de ninguem, ficará quietinha deixando ele fazer tudo o que revelou sem qq contra propaganda. muito bom esse marketeiro, que fala com 1 ano de antecedencia tudo o que vai fazer. SHOW !
ReplyNão gostei da propaganda do Aécio, muito artifical, lembrou a campanha do Collor. Tinha que bater forte na incompetência dos petistas para governar. Mostrar tudo o que foi prometido e não foi feito. Mostrar o descalabro na administração financeira com o absurdo endividamento para cobrir os financiamentos deficitários do BNDES. Mostrar que destruiram a Petrobras. Mostrar o inchaço da máquina pública com a contratação de exércitos petralhas para tudo no governo. Mostrar o absurdo da partilha dos ministérios, onde todos roubam e ninguém é punido.
ReplyQuem já enfrentou o Chavez pajarito azul, tem perfeitas condições de enfrentar os vermelhos, a rapinagem vermelha espumante de ódio da democracia que não seja a dellles, a do crime organizado.
ReplyOu fingir enfrentá-los, se fizer parte de algum grupo que jogue para perder, o que espero que não.
Força aí, marqueteiro corajoso, independente. Desta vez precisamos derrotar a bandidagem vermelha para devolvê-la a Cuba que a pariu!
Muito bom !! muito melhor do que o do Serra......o cara sabe o que tá falando...entende as linguagens, entende o eleitorado, conhece política.........
ReplyCoronel , ontem eu vi a propaganda e o que mais me chamou a atenção foi exatamente o primeiro tópico da entrevista: Todos nós construímos o Brasil. Nunca desceu pela minha goela aquela história para boi dormir que foram os negros e/ou nordestinos que constariam esse país. E meus Avós onde e quando entram nessa história, meus país, professora e bancário, que ralaram para me dar educação (particular nada do Estado), pagar imposto de renda descontado na fonte. etc..A propaganda começa bem, todos nós construímos esse país, espero que a ideia seja de fácil entendimento e absorvida todos.
ReplyOlha acho que qualquer outro marqueteiro no lugar do Gonzales já é uma melhora.
ReplyPrezado Coronel
ReplyO nove marqueteiro parace estar muito bem embasado nas respostas que deu durante a entrevista.
Acho que dificilmente viria a ser pior do que o Gonzalez, pois esse eh ruim de doer!
Tomara que consiga reverter o que as pesquisas vem indicando p/ 2014.
De todo jeito, nao vai ser nada facil! Ele vai ter muito trabalho pela frente!
TFA!
Muito jovem, com certeza falta-lhe experiência em comparação a essas raposas velhas.
ReplyPobre Brasil, pobre brasileiros estamos fu*** e mal pagos.
Coronel, não leve isso como provocação,mas é a triste verdade.