Abaixo, a coluna de estréia da senadora na Folha de São Paulo.
O preço dos alimentos está em alta em todos os mercados há alguns meses. Em consequência, a agricultura começa a entrar na agenda política. Essa súbita atenção deve ser bem apreciada por todos, uma vez que produtores rurais, salvo em épocas de crise, são quase sempre negligenciados pelos governos. A experiência, contudo, recomenda precaução. A crise não é boa conselheira, mas campo propício a medidas improvisadas, que buscam aplausos, mas não produzem soluções.
Antes de qualquer coisa, devemos indagar por que os preços estão subindo. Se quisermos respostas precisas, temos de ignorar os suspeitos habituais. É o caso dos mercados futuros de produtos agrícolas. A exemplo dos mordomos de filmes policiais, eles podem até parecer, mas não são os culpados. Por uma razão elementar: com exceção de períodos curtos, as cotações ali não se descolam dos fundamentos que regem a oferta e a demanda dos produtos. Mercados futuros, na verdade, ajudam a dar transparência ao processo de formação dos preços. Outro suspeito são as ocorrências climáticas, em especial secas e inundações. O papel desses fatores é real, mas grãos e carnes são produzidos hoje em tantas latitudes diferentes que essas ocorrências influem de forma bem mais limitada.
A elevação do custo da comida afeta a todos e temos de lidar com o problema de forma objetiva. Nesse sentido, o primeiro passo é reconhecer sua causa. Os preços estão subindo em virtude da elevação da demanda nas regiões pobres do mundo, em especial na Ásia, onde centenas de milhões de pessoas estão saindo da miséria e comendo mais, comendo melhor. A solução então é produzir mais grãos, mais carnes e mais frutas. Afinal, seria desumano, para dizer o mínimo, desejar que os pobres comam menos. Controle de preços, formação de estoques e outras modalidades de intervenção de governos na atividade privada não funcionam. E a história mostra que a agricultura e o agricultor só precisam de liberdade para acomodar preços de forma a remunerar o produtor, sem punir o consumidor.
Os últimos governos compreenderam a questão e não cederam às tentações intervencionistas. No entanto, leis anteriores à revolução agrícola dos anos 1970 continuam sendo obstáculos à expansão da produção rural. É o caso do Código Florestal, que veio à luz na década de 1960, quando o Brasil tinha agricultura incapaz de abastecer até o pequeno mercado doméstico de então. Se não incomodavam a agricultura estagnada e sem futuro de antes, alguns aspectos dessa legislação são nocivos aos interesses do país hoje. E sem nenhuma vantagem para a natureza. O fato é que o Código Florestal precisa ser revisto e atualizado. Do contrário, ficará seriamente comprometida a capacidade da nossa agropecuária de responder aos aumentos da demanda interna de alimentos. Não será possível, tampouco, atender as novas demandas do mundo emergente.
As mudanças pelas quais lutam os produtores não se destinam a aumentar o desmatamento. Eles querem apenas que as áreas de produção, abertas com grande sacrifício e elevados custos, quando a legislação permitia, sejam reconhecidas e regularizadas, e não criminalizadas com efeito retroativo. A esterilização dessas áreas é um retrocesso que só pode interessar aos países que concorrem conosco no mercado mundial e estão em desvantagem. Afinal, somos o segundo maior exportador de alimentos do mundo e um dos únicos em condição de aumentar a produção preservando o ambiente.
O Brasil hoje é outro. Em 1960, éramos 70 milhões de brasileiros, importávamos comida e tínhamos 200 milhões de hectares na produção de alimentos. Agora, ocupamos 230 milhões de hectares, somos 191 milhões e temos uma agropecuária moderna, que assimilou tecnologias, gera empregos, distribui renda e produz com eficiência, e de forma sustentável, comida de qualidade para o mercado interno e o mundo.
11 comentários
Boa Coronel,
ReplyO artigo da Senadora começa a colocar o debate no eixo certo.
O problema do Código Florestal não é, como querem fazer parecer o fundamentalismo ambiental, uma questão de expansão da fronteira agrícola, mas uma questão de preservação de área agrícola.
Coronel:
ReplyQuero cumprimentar o seu blog pela defesa que tem feito do Código Florestal. É importante que todos divulguem, porque existem interesses escusos impedindo a sua aprovação. Será uma luta muito dura, o Brasil do atraso ideológico está sempre tentando manter o domínio sobre o pobre. Manter o povo com fome é a maior arma.
Paulo (SP)
Quer dizer que em 50 anos o Brasil só aumentou em menos de 20% a área plantada? De onde é que os FDP estão tirando que o "agronégocio" está devastando o país? É uma vergonha as mentiras que esta esquerda bolorenta planta contra o Brasil. Temos que acabar com este inço!
ReplyKátia Abreu é uma grande promessa da política brasileira. Cuidado, senadora, daqui a pouco vão armar alguma coisa. Principalmente os invejosos do seu próprio lado. Olho vivo!
ReplyQue tal uma eleição entre Dilma, Marina e Kátia Abreu? Além de talento, beleza. Sou Kátia 2014!
ReplyPôxa vida! Que artigo!
ReplyUma posição límpida e cristalina como essa ou é acatada na íntegra ou combatida por interesses escusos. A senadora é interlocutora obrigatória no encaminhamento dessa questão, e está demonstrando ser capaz de muito mais...
Sou ruim de matemática, mas uma regrinha de 3 acho que ainda consigo fazer. Daí, pelos dados da Senadora, temos que em 1970, 200 milhões de hectares não alimentavam 70 milhões de pessoas, hoje 230 milhões (apenas 15% a mais)de hectares alimentam 191 milhões (173% a mais!) de pessoas no Brasil, mais não sei quantas no exterior. E a cambada que está no governo quer diminuir a produção de alimentos, quer fazer brasileiros passarem fome e quer diminuir a entrada de divisas oriundas da exportação. Grandes ecologistas, grandes estrategistas comerciais e, sobretudo, grandes humanistas!
ReplyCel.
ReplyConforme o último parágrafo, se em 1960 tinhamos 200 milhões de hectares e em 2011 (após 50 anos), temos 230 milhões de hectares, portanto, 15% de aumento, de onde foi que estes verdistas e onguistas tiraram a idéia que o Brasil está sendo devastado pelo agronegócio e prejudicando o meio-ambiente?
O povo brasileiro não merece ser prejudicado, assim como o mundo, por causa de uma corja de interesseiros sem vergonha na cara.
Chris/SP
Muito bom artigo, principalmente porque esclarece muita coisa. E vamos esperar que o agricultor brasileiro não seja lançado a sua própria sorte.
ReplyKátia Abreu teria todo o potencial para ser a Sarah Palin brasileira nas mãos de qualquer partido decente.
ReplyO problema é que os cardeais de todos os partidos (incluindo-se os tucanos tão amados por aqui...) têm a mesma ignorância da elite e classes "mérdias" urbanas brasieliras, que acham que alimentos nascem na prateleira do Pão de Açúcar e do Empório Santa Maria.
Coronnell,
Replynão se preocupe mais com o meio-ambiente: seremos um deserto mesmo, é só uma questão do quando. O governo está pouco se lixando para o meio-ambiente ( é só mamar).