Segundo turno
Nova rodada eleitoral propicia debate melhor e maiorias mais conscientes; teria vantagens tanto na eleição presidencial quanto no pleito paulista
O segundo turno nas eleições para a chefia do Executivo ocorre nas cidades com mais de 200 mil habitantes, nos Estados e na União quando nenhum dos candidatos obtém mais de 50 % dos votos válidos. O instituto do segundo turno foi um dos maiores acertos da Constituição de 1988.
Permite-se assim que o vitorioso tenha amplo respaldo e indiscutível legitimidade para governar. Evita-se o inconformismo que assolou, por exemplo, o início do governo Juscelino Kubitschek (1956-1960), eleito com apenas 36% dos sufrágios.
Ao mesmo tempo, tem sido o segundo turno -conjugado à evolução ideológica das últimas décadas- o motivo pelo qual as urnas vêm produzindo governos responsáveis e moderados no Brasil. Para vencer, qualquer candidatura precisa superar os limites de sua facção e atrair parcelas do majoritário centro político do eleitorado.
Nas eleições de hoje, cujo resultado, no que concerne à necessidade de segundo turno, permanece incerto, somam-se vantagens de ordem conjuntural àquelas inerentes a um novo escrutínio.
A candidata oficial, Dilma Rousseff, é franca favorita. Trata-se de personalidade pouco conhecida e jamais testada em cargo eletivo, prestes a assumir a vasta soma de poderes enfeixada pela Presidência. Sua provável vitória será robustecida pelo aspecto de aclamação em que poderá ocorrer e pela ampla maioria que decerto lhe será facultada no Congresso.
Mais uma etapa de exposição à controvérsia faria bem a uma candidata que parece chegar com demasiada facilidade, sobre os ombros da popularidade alheia, ao cargo máximo. Faria bem a um eleitorado submetido à frenética campanha movida pelo presidente Lula e à incompetência de seus oponentes para criar, nem se diga alternativa, mas real debate.
Raciocínio semelhante vale para a eleição paulista, onde a concentração de poder se dá no polo contrário, na forma de uma hegemonia tucana que perdura há mais de 15 anos. Aqui, um bom desempenho administrativo não tem sido imune a críticas fundamentadas, nem dissolve a sensação de mais do mesmo apontada no editorial abaixo.
A natureza do confronto entre dois finalistas compele a uma definição mais nítida de diferenças entre eles e permite ao eleitor consolidar sua opção ao examiná-los com mais rigor. O Tribunal Superior Eleitoral estima que o segundo turno presidencial custe R$ 50 milhões, num orçamento de R$ 480 milhões previsto para as eleições gerais deste ano. Gastá-los seria investir num resultado eleitoral mais maduro e consciente.
2 comentários
Já jogaram no lixo os R$ 4 milhões da campanha da renovação de título, agora não venham economizar para termos lisura do pleito de segundo turno...
ReplyHegemonia tucana em São Paulo, decorre, no meu modesto pensar, da capacidade menor das corporações estatais influenciar os eleitores da iniciativa privada. Estes, de numero muito superiores do que o resto do País.
ReplyIsto é o que percebo a partir do Rio Grande do Sul.
Saudações Coronel !