Sem blindagem

Ofuscada pelo escândalo Renan Calheiros e pela batalha da CPMF, a CPI das ONGS parece estar funcionando burocraticamente, de acordo com o Plano de Trabalho, juntando informações e tomando depoimentos sem dar a devida repercussão pública ao que está sendo investigado.

Depois do depoimento de Jacques Pena, Presidente da Fundação Banco do Brasil, de Jorge Hage, Ministro da CGU, vêm aí alguns convocados que podem trazer novas revelações e dar visibilidade a esta que é a mais desejada CPI, depois do Mensalão:

FÁBIO RODRIGUES ROLIM, da ONG Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social - IBDS, que, na CPI dos Bingos, caso GTECH, saiu indiciado por lavagem de dinheiro e por crime contra a ordem tributária. Já o IBDS, foi denunciado por pagamento de propina e sonegação de impostos. Agora está novamente enrolado com a FBB.

MAYNARD MARQUES SANTA ROSA, general de exército que vem afirmando na mídia que muitas das organizacões não-govemamentais (Ongs) em atuação na Amazonia "tem interesses ocultos com o tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, tráfico de armas e de pessoas, e até mesmo espionagem". O general é Secretário de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa e afirma que só na Amazônia atuam 100 mil ONGs, grande parte de origem estrangeira, somente 4,5 mil legalmente registradas no Ministério da Justiça.

PAUL SINGER, Secretário Nacional de Economia Solidária e fundador do PT, para discorrer sobre as atividades e modus operandi do Programa Trabalho e Cidadania, desenvolvido em conjunto com o Banco do Brasil.

FRANCISCO FELIX, presidente da ONG Educar, para responder sobre o uso de recursos públicos destinados ao programa Brasil Alfabetizado. De acordo com depoimento da responsável pela administração da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (com sede em Vitória da Conquista), entidade responsável pela implantação do programa na região, o convocado seria uma espécie de "interlocutor entre as ONGs suspeitas".

O onguetudo construído nos últimos anos tem irrigado comitês eleitorais travestidos de movimentos sociais e até pequenas confrarias familiares, alimentadas com dinheiro destinado a programas assistenciais. O foco do PT na CPI é claro, é novamente plantar um discurso em que pretende creditar todos os problemas à falta de um marco regulatório, quando estamos tratando é de corrupção e desvio de dinheiro público.

Chegou a hora de trocar Plutão por Platão, lembrando, como o próprio cunhou, que"o começo é a parte mais importante do trabalho." Um bom começo é não tentar blindar ninguém, como já vem sendo noticiado.