PSDB desgovernado(1).

Um dos quadros tradicionais do PSDB, o ex-deputado Arnaldo Madeira, que foi líder do governo na Câmara no governo Fernando Henrique Cardoso e secretário da Casa Civil de Geraldo Alckmin (2003-2006), avalia que a polêmica sobre a prévia evidencia a 'falta rumo no partido'. É a falta de rumo que assola o PSDB há alguns anos, não é de agora. Esse é o fato mais notável. O partido está sem direção, está perdido nacionalmente e em lugares como São Paulo, único lugar em que o partido existe para valer', disse. Abaixo, a entrevista do Estadão:

O sr. acha que o partido deve desmarcar prévias e esperar uma decisão de Serra?
Deixar os caras sete meses trabalhando as prévias e agora fazer uma coisa desse tipo? É uma coisa inconcebível para mim. Aí é falta de rumo. O partido não sabe para aonde vai. Essa falta de rumo assola o PSDB há alguns anos, não é de agora. Esse é o fato mais notável. O partido está sem direção, perdido nacionalmente e em lugares como São Paulo, único lugar em que o partido existe para valer. Você tem toda uma militância que fica trabalhando oito, nove meses envolvida com candidaturas. Aí, de repente, um desavisado fala: 'Vamos parar com tudo, não queremos prévia, fala para o Serra ser candidato'. Serra, tanto quanto eu sei, continua sem dizer que quer ser candidato. E, para ser candidato a prefeito, talvez mais do que para qualquer outro nível de governo, o cara precisa ter vontade.

O partido deve mesmo realizar a consulta prévia?
Foi o partido que as marcou. Que eu saiba, o Serra não colocou condição para não ter prévias. O pessoal é que está dizendo: 'Vamos suspender as prévias e falar com ele'. Ninguém me falou: 'Conversei com o Serra, e ele disse que uma condição para ser candidato é retirar a prévia.'

Se ele resolver ser candidato, deve disputar a prévia?
O partido não vai fazer isso. Um dos males do PSDB é o seguinte: você tem uma direção que anuncia prévia, marca a prévia, e um governador que estimula as prévias. De repente, bate um desespero e aí colocam que o nome tem de ser o Serra.

Serra deve ser o candidato?
Eu acho que o partido tomou uma posição. Tomou, tomou.

Não dá para voltar atrás?
A não ser que os quatro pré-candidatos digam que não querem mais disputar. Mas até onde sei eles continuam trabalhando.

O sr. acha que é um momento de mudança de geração?
Está tudo apontando para isso. Todos os candidatos que estão aí colocados são mais jovens.

O Serra deveria anunciar logo se pretende concorrer?
Eu não sou o Serra. Ele tem lá os critérios dele.

Que lhe parece fazer a prévia e, depois, o candidato vencedor abrir mão para o Serra?
Não acho um caminho saudável. Feita a prévia, fica difícil voltar atrás. Agora, que eu acho que o partido está à deriva, sem dúvida. Marca uma prévia e agora fica falando em anular, a ponto de um líder de bancada soltar nota pedindo para os pré-candidatos retirarem? Pessoalmente, acho que o partido tem uma figura nova que pode ser um candidato excepcional, que é o Andrea Matarazzo. Agora, tem que ter coragem. Vai ter 3% ou 4% nas pesquisas, é assim mesmo. Esse processo é desgastante para o partido. Criou-se um cenário ruim, e o Serra é o menos culpado disso.

De quem é culpa?
É uma culpa coletiva. Talvez quem menos tenha culpa seja o Serra, porque ele estava lá, dizendo que não era candidato. Quando o Kassab disse que iria somar com o PT, bateu a paúra total. Voltaram para o Serra. Ele estava o tempo todo anunciado dizendo que estava voltado para o País. Acho até que ele estava certo. Então, quem são os responsáveis? Quem está à frente do partido. Não é quem está na base

2 comentários

Conjugando "perder": O PSDB se perdeu a partir de 2003. Mas até 2005, sob a presidência justamente de Serra, apesar dos problemas, susteve alguma dignidade, e apesar também de pouca divulgação, teve muito trabalho de "base", descentralizando, saindo para os estados, com foco e esforço para formação política. De 2006 até 2010, perdeu-se. O que não é a mesma coisa do "se perdeu" acima, é um estar sem rumo não só para a "opinião pública", é internalizar o "ondé quiotô, quem équiossô, prondé quiovô", sistematicamente. Se perder São Paulo - capital - perderá o estado, indefectivelmente, e então não perderá o caminho do cemitério. A cova está aberta, e o mármore foi encomendado. Não sinto satisfação alguma em escrever isso. Mas é assim que é.

O maior erro no ano de 2011 talvez tenha sido esconder o quanto - e de quem - foi possível que Aécio queria fundar um partido junto com Rodrigo Maia. Esconderam, e, ao invés do senador arcar com o desgaste sozinho, o coletivo do partido paga a conta, à custa de alguns bons quadros, como o próprio Serra, Arnaldo Madeira, Álvaro Dias, e mais uns. Poucos.

Agora vou além, e digo, apesar de não ser de meu feito apontar "certezas" dos políticos, arrisco que mais uma vez Kassab vê lá na frente, o que nós não vemos: o blocão com o PSB, apesar dos pesares, e do que possa parecer de fisiologismo agora, será um calo de estimação (daqueles que dóem quando o tempo muda) nas pretenções de Aécio-Eduardo Campos. Um Kassab no meio deles incomodará bastante a "certeza" que a dupla parece ter de que um dos dois (o que estiver melhor em pesquisas) seja o candidato em 2014 - visando eleição em 2018.

No meu entender, uma chapa - com reais chances de vitória e resgate de dignidade - entre Afif e Matarazzo, dá esperança de que SP não será do PT, e aí sim, pode alterar esse quadro que eu vejo, como sempre, na contramão do senso comum. Aí quem sabe, até poderemos cancelar aquela viagem programada para o dia da votação em 2014. Deixar a abstenção de lado e votar com alguma chance de segundo turno contra o PT.

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O Serra deveria sair do PSDB que não o valoriza.

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