quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Não foi por falta de aviso e protesto.


A sinuosidade de ação e pensamento que tanto fragiliza o PSDB no exercício da oposição é também o veneno que, aplicado em doses constantes e cada vez mais letais, corrói as entranhas do partido. A última aniquilou a chance de os tucanos virem a construir uma candidatura viável à Prefeitura de São Paulo a partir da realização das prévias já marcadas para 4 de março próximo. Às vésperas da escolha entre os pretendentes Andrea Matarazzo, Bruno Covas, Ricardo Tripoli e José Aníbal, o PSDB recrudesce a pressão para José Serra ser candidato. Com isso, desmoraliza seus postulantes, informa ao eleitorado que nenhum deles vale quanto pesa e confere a todos a condição de meros esquentadores de cadeira.

Vamos que Serra mantenha a decisão de não se candidatar e a escolha se dê entre os quatro: que moral política ou eleitoral terá o vencedor se o próprio partido pelo qual concorre trombeteara previamente sua carência de condições competitivas? E se José Serra ceder às pressões e for ele o candidato? Em termos imediatos, pode até ser uma solução, o PSDB pode ganhar a eleição. Mas terá de se ver diante da contradição de ter tratado como herói da resistência alguém que havia sido posto fora do tabuleiro. O partido, aqui entendido como a direção e as principais lideranças, não perde oportunidade de acentuar o quanto José Serra está isolado. Tucanos só faltam dizer em público que o tempo dele passou. Privadamente dizem exatamente isso.

Mas, na hora de resolver um problema na eleição que será a mãe de todas as batalhas municipais, definidora da sobrevivência do partido e da consolidação da hegemonia total do PT no cenário nacional, enfileiram-se em romaria pedindo que se candidate a prefeito de São Paulo. Ressuscitam aquele que haviam dado como "morto" para, de um lado, salvar a lavoura partidária e, de outro, mantê-lo longe do jogo de 2014. Diga-se em favor do PSDB que incoerente o partido não é. Trabalha contra os seus com competência e persistência.

Deixou-se aprisionar na armadilha da "herança maldita" urdida pelo PT. E não depois da vitória de Lula, em 2002. Mas já durante aquela campanha quando se recusou a pôr o então presidente Fernando Henrique Cardoso no palanque. Recusa, aliás, é um termo brando. Repúdio traduz melhor a situação. As pesquisas indicavam acentuado desgaste de FH no segundo mandato, os marqueteiros aconselharam ao partido que mantivesse dele distância regulamentar e assim foi feito. Dessa forma continuou sendo feito quando Lula surrava diariamente o governo do antecessor e o PSDB apanhava calado. Parafraseando Nelson Rodrigues, o PT sabia por que batia e os tucanos pareciam concordar com as pancadas.

Só recentemente o PSDB reabilitou Fernando Henrique e, assim mesmo, a reboque da iniciativa de Dilma Rousseff em reconhecer-lhe publicamente o valor. Antes disso, o ex-presidente foi voz isolada em todas as críticas, análises de conjuntura e "pensatas" sobre a condução do partido. Guardadas as proporções e os objetivos, no caso específico da Prefeitura de São Paulo, Serra agora é objeto desse tipo de reabilitação a posteriori. Pelo simples fato de que o PSDB não conseguiu mais uma vez construir um caminho para si. Se queria Serra, não deveria ter-se deixado levar pela proposta de prévias; se queria aliança com Kassab, não deveria tê-lo deixado correr para o PT; se queria um candidato novo, deveria ter tido unidade e firmeza para construí-lo como Lula fez com Fernando Haddad.

O problema é que o maior entre os poucos partidos de oposição não sabe o que quer. Agora não há tempo para mais nada, resta apenas o espaço ao improviso de sempre. E se o leitor mais atento sentiu falta da responsabilização nominal desse ou daquele tucano pelos passos em falso saiba que foi proposital. Não é uma obra de autor. É resultado de um trabalho coletivo de destruição do qual nenhum dirigente, líder, governante, parlamentar, vítima ocasional ou algoz circunstancial está isento. (Coluna de Dora Kramer, intitulada "Balas de prata", publicada hoje no Estadão)

9 comentários:

  1. Meu hj td mundo acordou inspirado ,vc a dora.

    ResponderExcluir
  2. Bom,minha opinião é a seguinte:sou plenamente a favor das prévias,acho um avanço democrático para qualquer partido,tendo mais de um candidato, defendo que ela aconteça sempre.

    Serra disse que não queria disputar,acho que não se deve insistir com alguém que não quer ser candidato em detrimento de outros que querem,a vontade faz toda a diferença.

    ResponderExcluir
  3. Resumindo: Serra é a Geni do PSDB.

    ResponderExcluir
  4. Cel.

    Não acho justo cancelarem as prévias só porque talvez o Serra resolva se candidatar. E daí??? Ele que concorra com outros, isto sim é justo. Se o Serra for mesmo o melhor, será o vencedor.

    Independente da qualidade dos outros candidados, é uma grande sacanagem o que armaram para eles.

    É claro que se o Serra for o candidato a Prefeito em 2012, ele ganha disparado. Mas ser forçado a concorrer, independente de sua vontade, assim não é legal. Ele precisa descobrir qual é a sua vontade, sem considerar a dos demais.

    Chris/SP

    ResponderExcluir
  5. Coronel, querido!

    Não sou contra prévias, acho que abrem espaço para novas lideranças, trazem uma candidatura construída a partir da base e tudo o mais. O que eu acho é que o PSDB novamente copia o partido que um dia foi o pt. Eles tinham sempre essa mania de prévias, que também nunca foram tão prévias assim, porque o Suplicy quis disputar prévias contra a coisa na primeira elleição llá delle (não digo o nome da coisa porque o pé frio delle não é brinquedo) e o partido inteiro impediu.
    Agora, os tucanos inventam essas prévias, verdadeiro fator de união nacional como se está vendo, com um atirando contra o outro, e cadê as prévias do partido que um dia foi o pt? Ninguém sabe, ninguém viu. Foi llá a coisa e puxou do bollso do collete o engomadinho do kit gay e fallou: "Taí o hómi". O partido que vá chorar na cama que é lugar quente. Verdade que elles também estão à beira de um ataque de nervos, rangendo os dentes com o apoio do Kassab, dizendo que vão se desfiliar e tals. Essa jogada só seria de mestre se o Kassab tivesse a intenção - que não tem - de implodir de dentro essa gente, de desagregar, de instaurar a cizânia.
    Agora a tucanada inventou essas prévias que viraram uma cilada e ninguém sabe como sair do imbroglio. Imitam o partido que um dia... com dez anos de atraso. Dá prá procurar identidade própria, pufavô?

    Beijo, Coronel!

    ResponderExcluir
  6. Lamento discordar. Serra já disputou 2 vezes e na H não disse a que veio. Forjou até uma amizade com o Lula no in´cio da útlima campanha. Então, a PMSP é um ótimo prêmio de consolação para ele.

    Ah, vai abrir caminho para Aécio em 2014!

    Vai mesmo, será? Acho que vai aparecer gente bem mais "macha" que ele. Kátia Abreu, por exemplo, fala muito mais grosso que o tamanduá de minas.

    ResponderExcluir
  7. Cel
    Ai, ai, COMO O psdb COMPLICA O QUE DEVERIA SER SIMPLES. nOSSA! tODOS DO PARTIDO DEVERIAM FAZER TERAPIA. aFF! cANSEI!
    Esther

    ResponderExcluir
  8. O Kassab deveria designar o vice do Serra, o neo PSDista Meireles! Isso ia deixar ainda mais alvoroçado os ptistas e o Lulla! Resta saber se o ex-ministro iria aceitar! Eu acho que o Meireles iria topar!...

    ResponderExcluir
  9. E agora, Coronel, quem é que vai ter a coragem de dizer "Eu errei!"

    ResponderExcluir