O twitter não filma nóis aqui, Globo.

O que explica que uma manifestação programada tenha trinta mil confirmações nas redes sociais e, quando realizada, conte com a presença e participação efetiva de apenas três mil pessoas? Simples. Rede social não é para isso. Não tem força e tampouco organização para alavancar este tipo de movimento.  As pessoas estão ali  virtualmente (e realmente) reunidas para outras coisas. O barato é a dispersão, não o foco. Ao mesmo tempo em que confirmam presença na marcha, os tuiteiros, por exemplo, tiram uma  onda em cima do torcedor do outro clube, azaram um avatar bonitinho, contam o que estão comendo, procuram hashtags para replicar, pesquisam intensamente a novidade mais criativa, inteligente, crítica, humorada e por aí vai. Todo mundo quer a atenção do maior número de pessoas e dá-lhe "por que você não me segue?"  e "me segue que eu te sigo" .

No Brasil, política tem hora marcada. É quando começa o horário eleitoral, sinal de que vem aí eleições para alguma coisa. Aí bombam os blogs, o número de seguidores explode, as  redes sociais viram uma poderosa ferramenta de marketing.  Por quê? Simples,  neste momento elas estão apoiadas pela comunicação de massa, esta sim poderosíssima em qualquer ocasião, pois é capaz de reunir até 40 milhões de pessoas diante de um mesmo programa de TV. Aí cria-se um círculo virtuoso de comunicação, com a mídia de massa sendo arrastada pelas redes sociais, repercutindo o que nasceu ali, nas web cams, nos tuitaços, nas entrevistas a blogs que não tem horário para entrar no ar ou para rodar nas oficinas.

O mais recente fracasso das redes sociais é  a sonhática Marina Silva. Tendo baseado a sua campanha presidencial em cima da internet, com muito sucesso e 20 milhões de votos, agora pena para conseguir pouco mais de dez mil assinaturas em um abaixo-assinado para o qual ela queria alcançar um milhão de adesões.Diante da falência da sua estratégia na web, busca desesperadamente espaços na mídia tradicional para colunas, entrevistas e artigos. A sua “nova política” nunca dependeu tanto da velha mídia. Não é diferente com José Serra, que possui mais de oitocentos mil seguidores no twitter, mas sofre para ter alguns milhares de acessos para os bons artigos do seu blog. Já o Observador Político do FHC está, neste momento, inclusive, com a sua conta de twitter bloqueada, sabe-se lá o motivo e a Dilma nunca mais mandou recado algum para os seus mais de quinhentos mil seguidores.

Portanto, não esperem que blog, twitter e o facebook tenham o poder mobilizador de um Jornal  Nacional ou do horário eleitoral gratuito. Não vai rolar. A não ser quando os grandes meios de comunicação abrirem, efetivamente, espaços para cobrir e o brasileiro poder mostrar, nas marchas contra a corrupção, as plaquinhas de “globo, filma nóis aqui”. Fora isso, encontre uma boa parte dos tuiteiros cariocas (é apenas um exemplo) que confirmaram presença na Cinelândia, para gritar contra a roubalheira, dando uma graninha para o guarda permitir o estacionamento em cima de uma calçada em Ipanema, que o  mar está lindo e a cerveja gelada. Mais tarde, curtam, em vez de velho aposentado protestando contra o salário,  a foto das gatas na areia, no facebook da rapaziada. Neste momento, 99% dos brasileiros não está nem aí para política e políticos. No país onde ninguém é cassado, ninguém é preso, ninguém é julgado, eles não deixam de ter razão. Infelizmente.